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AOSSIC - Steffi Grant© |
Kenneth
Grant (1924-2011) foi um dos mais notáveis magistas do século XX.
Bem conhecido como o último estudante de Aleister Crowley em meados
dos anos 1940, ele passou a desenvolver sua própria interpretação
de Thelema e levou a Grande Obra através de portais Yuggothianos e
em direção de novas dimensões inteiramente estelares. No entanto,
apesar de sua sólida obra, ele freqüentemente recebeu críticas e
(sinto eu, injustamente) ganhou uma reputação de ser
incompreensível ou coisa pior. Este equívoco tem manchado a
percepção de seus escritos, e talvez tenha contribuído para que se
tenha deles uma compreensão mais lenta do que merecem, como um corpo
altamente perspicaz de trabalho que forma um complexo e entrelaçado
comentário sobre numerosos assuntos esotéricos.
Pelo
final de sua longa carreira de escritor, Kenneth Grant havia escrito
uma prateleira inteira de livros, mais notavelmente as Trilogias
Tifonianas,
que construiu sobre a radiação de background
oculto deixado para trás por ordens como a Ordem Hermética da
Aurora Dourada e luminares como Aleister Crowley, Jack Parsons e Dion
Fortune. Estendendo sua Gnose Tifoniana, ele permitiu que conceitos
como o tráfico com entidades, gnose sexual e uma inteira tradição
do lado noturno
para infiltrar-se em seus romances que eram muitas vezes trabalhos
mais curtos apresentando uma conexão sideral
à
sua própria pessoa, criando assim uma estranha simetria onde Kenneth Grant caminhava dentro de sua própria ficção, e
os seres e energias, e de fato o sentido de outro
que ele evocou sangrar de volta de sua prosa em nossa realidade. Como
muitos de seus leitores notarão, há uma qualidade sonhadora,
desconcertante na ficção Grantiana onde a fronteira entre fato e
fantasia se dissolve em uma constrangedora narrativa onde alguém é
capturado entre as associações e o firmamento da história.
Isso
tudo é parte de sua magia, e uma das razões por que seus livros são
freqüentemente descritos não tanto como sendo sobre magia, mas como
objetos mágicos em seu próprio direito. Este é o real valor
deles, como Grant envolveu magia na própria estrutura lingüística
de seu texto, tornando isto um ponto de partida para outras
realidades. Eu tenho certamente encontrado isto por mim mesmo, e
lendo seu trabalho tarde da noite, sou muitas vezes levado a um
sentido de devaneio que se transforma facilmente em estados mais
profundos de consciência meditativa. Na
verdade, muitas vezes as Trilogias
Tifonianas
parecem transmutar e refletir aos leitores exatamente o que estes
precisam
ler naquele momento em particular para promover o seu desenvolvimento
mágico.
Kenneth
Grant não escreveu para iniciantes, e ninguém encontrará rituais
estabelecidos, tais como o Ritual
Menor do Pentagrama
ou do Pilar
do Meio
dentro de seus livros, antes é esperado a ponderar sobre as
informações e considerações dadas e designadas pelo seu próprio
caminho através dos mistérios que ele tão tentadoramente desvenda.
Seu estilo de escrita é único, e muito diferente da precisão de
fórmulas que encontramos com Aleister Crowley. Grant
consolidou os Thelemitas de forma que muitos sentem que essa
consolidação depreciou o espírito daquilo que Crowley tentava
atingir. No
entanto, em contraste com isso, muitas pessoas sentem que Kenneth
Grant, seguindo suas próprias estrelas (não aquelas de Aleister
Crowley) abriu novas portas para a compreensão, exploração e
mistério. Além disso, alguns dos trabalhos de Grant são
notavelmente prescientes quanto aos efeitos sobre a consciência
humana a partir do universo em geral. Por exemplo seu comentário
sobre
OVNIs em Outer
Gateways
referentes e construidos sobre idéias sugeridas por Arthur Machen,
em The
Great God Pan
e John Keel em livros tais como The
Mothman Prophecies,
e descreve um modelo de componentes não práticos de OVNIs a partir
da perspectiva esotérica, uma visão que só recentemente está
realmente se tornando mais proeminente.
Transmissões
Telepáticas de Yuggoth
|
H.P. Lovecraft e seu gatinho, Sam Perkins |
Uma
das áreas mais problemáticas dentro do corpo de escritos de Grant é
a que se conecta ao mito de Cthulhu de H.P. Lovecraft. Sabemos que de
fato que HP Lovecraft produziu este mito, semeando-o tanto com
entidades encontradas em mitologia (como Dagon), quanto com aquelas
que ele inventou (como Yog-Sothoth ou Hastur o indescritível). Além
disso Lovecraft era um materialista ardente, que em suas cartas
frequentemente comentava que tudo foi inventado, usando nomes como o
Necronomicon
ou Abdul
Alhazred
simplesmente porque ele gostava do som dessas palavra. Finalmente,
uma varredura da literatura mostra que não há referências
confiáveis ao Necronomicon
ou a composição das entidades antes das histórias de Lovecraft
serem publicadas.
A
fim de adicionar autenticidade a suas histórias Lovecraft criou uma
história ficcional do Necronomicon
que referenciou personagens históricos reais como John Dee e Olaus
Wormius, um esquema que 'se tornou viral' conforme outros autores
continuaram adicionando ao mito em anos subseqüentes. É notável
que, ainda recentemente, depois do assunto ter sido desmerecido à
morte e excelentes livros sobre o assunto, como Os Arquivos
Necronomicon
apareceram – que claramente apresentam de forma bem referenciados
os fatos do caso – ainda existem pessoas que aceitam a literal
verdade da confecção blasfema de H.P. Lovecraft.
Como,
então, devemos unificar estes fatos com o conhecimento que Kenneth
Grant mencionou o Necronomicon
ao longo de sua obra desde o início? Grant era um verdadeiro
estudioso e muito bom leitor, como a lista de referências no final
de seus livros testemunham, assim podemos estar certos de que ele
estava ciente da mundana não-história do Necronomicon
e que – no nosso nível, pelo menos – é tudo ficção. Na
verdade ele reconhece que Lovecraft inventou o Necronomicon
no capítulo inicial de Outer
Gateways.
Nas palavras de Grant:
"Uma
série de textos arcanos que reivindicam proveniência não-terrestre
são de importância suprema na esfera do ocultismo criativo. Talvez
o mais misterioso e, certamente, o mais sinistro seja o
Necronomicon, a primeira menção em que aparece é na ficção do escritor HP
Lovecraft da Nova Inglaterra. Disse ter sido escrito por um árabe
louco chamado Al Hazred, o Necronomicon de fato existe em um plano
acessível para aqueles que, conscientemente, como Crowley, ou
inconscientemente, como Lovecraft, conseguiram penetrar. "
Este
parágrafo sucintamente resume tudo o que Kenneth Grant tem a dizer
sobre o Necronomicon.
Ele deixa claro que H.P. Lovecraft produziu, e igualmente claro que
ele acredita que o trabalho de Lovecraft tenha sido entusiasmado a partir de um nível mais profundo de realidade. Na verdade, o Necronomicon,
como um grimório primordial; é uma fonte de inspiração
atravessando toda a obra inicial de Grant, começando com O
Renascer da Magia
onde
Grant enumera uma série de correspondências entre a coletânea dos
Mitos de Lovecraft e Thelema.
Desde
então Grant
contribuiu para o número de
conexões usando gematria
com
nomes e palavras encontradas em outras tradições, sobretudo em O Livro
da Lei
de Aleister Crowley. Isso incluiu a conexão de palavras que têm uma
semelhança lingüística ou gemátrica a terminologia encontrada no
Mito como "Set-Hulu" ou "Tutulu" – uma palavra
ouvida por Crowley, enquanto em vidência dos Æthyrs Enoquianos no
deserto do Saara em 1909, com o poeta Victor Neuberg
–
o que Grant relaciona com Cthulhu.
Ao longo dos volumes posteriores, Grant faz referências ao
Necronomicon da mesma maneira que faz referências a outras fontes
tradicionais, tais como Gnóstica, Hebraica e Sânscrita. Este tema
continua durante todas as Trilogias, porém, sinto que atinge seu
clímax no erudito "Hecate’s
Fountain"
onde Grant fala de rituais para invocar Cthulhu e é aqui que
encontramos a comparação mencionada entre O Livro
da Lei
e o Necronomicon.
Mas,
voltando à questão de saber se o mito é literalmente real, podemos
melhor responder comparando-o a outras antigas tradições "aceitas" da humanidade. Todos os mitos, religiões e práticas
espirituais começam com um místico contato com o inefável e a
construção de um elo. Então talvez nós precisemos olhar para o próprio H.P. Lovecraft. Apesar de um materialista e cético externamente, Grant sugere que Lovecraft pode ter sido um vidente
inconsciente que poderia perceber padrões mais profundos da
realidade, apesar de ser leigo à sua verdadeira natureza, ele,
então, foge com medo. Certamente um monte de contos de Lovecraft
originado em sonhos, e alguns contos foram quase exatas recontagens
de seus sonhos, o que mostra que sua origem não era de sua
consciência regular do lado diurno, mas no mínimo uma fonte
inconsciente separada do seu materialismo em vigília. No entanto,
mesmo que Lovecraft tenha conscientemente produzido o mito, isso não
quebra a validade de conexão de Kenneth Grant a ele. Grant
reconheceu os padrões familiares místicos que Cthulhu e os Grandes
Antigos se enquadram e teceu a sua prática em torno disto. Todos os
mitos e religiões começaram de forma semelhante, e, neste sentido o
mito é tão real e válido como qualquer outra mitologia e religião,
apesar do nosso inconsciente coletivo reprimido.
Talvez
possamos entender mais essa idéia se considerarmos um contador de
histórias de ficção que está criando um novo personagem
serial killer para
um romance. Ele usaria certos padrões e arquétipos em sua criação
do personagem com sua origem no comportamento de reais assassinos em
série. Tal qual nosso serial killer virtual é um símbolo para o
espírito de assassinatos em série que está subjacente à loucura
em todos os que encontramos (ou esperemos que não) em nosso mundo.
Assim, em certo sentido, um ficcional Hannibal Lector, devidamente
realizado, é tão real como Jack, o Estripador, e Ted Bundy.*
Dando
uma caminhada no Lado Noturno
A
partir daqui talvez pudéssemos perguntar por que alguém iria querer
encontrar entidades do lado nortuno como Cthulhu. Acredito que o
trabalho de Grant ganhou uma reputação injusta ganhou por ser
excessivamnete sombria, e que talvez essa reputação se deve aos
ocultistas "nova era”**
sem entender que o Universo (e nós mesmos por extensão) é
composto por ambas, luz e trevas. É vital explorar essas energias
cuidadosamente (e com segurança), uma vez que em certo nível elas estão aí fora e são desagradáveis, mas elas também
estão dentro de nós e são potenciais.
Lembre-se da idéias de Freud sobre a necessidade de se expressar, e
então assimilar as repressões; em um sentido mágico isto é o
por que se enfrenta a escuridão, para vir à luz renascido como uma
energia saudável ao invés de deixá-la como uma sombria bomba de
tempo reprimida pronta para explodir. Muito trabalhos de Grant aqui
são realmente uma visão perspicaz no conceito Teosófico do
Habitante do Umbral – e ocultistas sérios não trabalham com o
lado sombrio para prejudicar, mas sim para regenerar suas próprias
repressões mais escuras na luz de um amor próprio.
O
mais alto grau em ocultismo, de acordo com a Ordem Hermética da
Aurora Dourada, é "Ipsissimus", que significa "alguém
auto-completo em si mesmo": alguém que tem curado e absorvido
todas as suas fraturas, suas peças quebradas, todos os seus demônios
pessoais em um ser perfeito no conhecimento de sua (unificada)
verdadeira vontade. Isto é mais potente e cura muito mais do que
meditar sobre golfinhos e unicórnios, e eu sinto que entender
"sombrio" como sendo arrepiante e assustador é perder
totalmente as ideias nos escritos de Kenneth Grant, que na realidade
mostra ser ele um dos mais sensatos ocultistas por aí.
A esse respeito, os mitos servem perfeitamente como um veículo para
essas idéias.
Aleister
Crowley encontra Drácula e a Múmia
O
estranho, a ficção sobrenatural, foi muito importante para Kenneth
Grant, e seu uso do mito Lovecraftiano mostra claramente que ele viu
isto como um recipiente capaz de transmitir profundas idéias
esotéricas. Muitos ocultistas testemunham que a novela oculta muitas vezes serve como uma melhor transportadora de idéias que o
livro de ocultismo, e Grant mesmo abraçou este conceito. Por
exemplo, a novela Gamaliel
de Grant,
mostra
claramente como ele entendeu o conceito oculto
de vampirismo, ao contrário do um tanto estereotipado Europeu
Oriental em um 'dinner jacket' e um sorriso de Bela Lugosi. Grant (em
The
Magical Revival)
delineia o vampirismo de volta ao Egito antigo, fazendo referência
as práticas de magia negra projetadas para manter a parte terrestre
da alma (o ka)
a serviço de um necromante (utilizando este sujeitado ka
como um familiar), embora a prática original fosse para proteger as
tumbas dos mortos. Este é um tema também explorado por Dion Fortune
em The
Demon Lover,
não obstante Fortune se aproxima de forma ligeiramente diferente,
dado que o seu "vampiro" fictício não foi devidamente
morto em primeiro lugar!
Nas
Trilogias
Tifonianas
vemos o vampirismo exposto como uma transação de energia com um
nível mais profundo que pode levar a uma diminuição de vitalidade,
de vida e do ser, com ambos, o hospedeiro e o vampiro, trocando
alguma coisa – geralmente resultando na persistência
do vampiro e a diminuição
do hospedeiro.
|
Sobek-neferu-re (Sobek É a Beleza de Rá) |
Tanto
Aleister Crowley quanto Austin Osman Spare mergulharam seus dedos no
assunto do Vampirismo em seus escritos; Grant, no entanto, pulou na
piscina, de roupa e tudo. Na verdade, o assunto é central para um
tema encontrado em todo o trabalho de Grant, a idéia de "gnose
estelar". Um dos tópicos históricos que Grant explora é o da
Rainha SobekNoferu, que historicamente governou o Egito durante
quatro anos, no final da XIIº Dinastia, direcionando o Egito para o
fim do período do Médio Reinado. Sabemos muito pouco sobre a
SobekNoferu histórica, no entanto o seu nome (que significa "Amada
de Sobek") sugere uma ligação com o deus Egípcio crocodilo
Sobek.
Esta
conexão faz parte do mito original da tradição Tifoniana, que olha
para a antiguidade e para as práticas religiosas iniciais
conectando a humanidade com nossas Deusas. Dion Fortune em
Sacerdotisa
da Lua
aludiu a uma tradição semelhante, e a idéia de civilizações
anteriores ao Egito na região do Nilo é ainda algo considerado hoje controverso através da investigação de pessoas como John Anthony
West e Robert Schoch***
e seus revisados encontros da Grande Esfinge. Grant viu SobekNoferu
como uma restauradora que trouxe esta tradição a partir da mais remota antiguidade para a antiguidade mais próxima:
"O
oráculo é
ThERA,
Rainha
das Sete Estrelas que reinou na XIII Dinastia como Rainha
Sebek-nefer-Ra. Foi ela que trouxe de um passado indefinidamente mais
antigo, anterior mesmo ao Egito, a original Gnose Tifoniana."
A
interpretação da Jóia
das Sete Estrelas de
Bram Stoker pela “Casa
de Horror Hammer”****
em Sangue
no Sarcófago da Múmia
exala pura elegância Cinquentista com a seminua Valerie Leon como a
(des)mumificada e ainda vital e altamente sexy cadáver de Tera
sobrevivendo
através dos séculos para reviver nos tempos modernos; uma pegada
mais moderna e ocultista sobre o conto de Bram Stoker, e mais fiel ao
legado sideral de Grant e Austin Osman Spare e, talvez ,capturando
alguns dos ambientes de Nu-Isis em que Kenneth Grant estava
mergulhado na década de 1960. Na minha opinião este é o filme mais
Tifoniano já feito; embora ligeiramente menos preciso (em um nível
arqueológico) do que outros filmes de história,
mas pode facilmente deslizar para uma situação de assistir ao
filme, onde o erudito Kenneth Grant sai das sombras para explicar a
narrativa (na verdade, ele praticamente o faz nos primeiros volumes
de suas Trilogias).
Eu
acho que parte da importância para Kenneth Grant em relação a
Rainha Sobek-Nefer-Ra é que ela é do sexo feminino. Aleister
Crowley, enquanto brilhante em seu caminho, era um iconoclasta que
moveu adiante o ocultismo nos difíceis anos de formação do século
XX. No entanto, ele era basicamente um cavalheiro Vitoriano, com,
sinto eu, algumas tendências misóginas que persistiram em seu
ensino. É claro a partir de seus escritos que ele via suas mulheres
escarlates como
subserviente ao seu trabalho e que todas elas tinham funções dentro
de seu caminho. De fato uma das razões pelas quais eu não acho que
Aleister Crowley teve muita influência sobre Gerald Gardner durante
a formação do movimento Wicca é que Crowley certamente não era do
tipo de se submeter a uma Sacerdotisa; tudo o que há a partir de
Gardner.
Kenneth
Grant, porém, é muito mais equilibrado em seus escritos, e evitando
as armadilhas de Crowley e Gardner, dá mérito igual a ambos os
mistérios, masculino e feminino, em sua obra, reconhecendo que ambos
os sexos adicionam em seus próprios caminhos para a iniciação e o
avanço da corrente mágica. No trabalho de Kenneth Grant lemos sobre
esoterismo tanto numa perspectiva masculina quanto numa perspectiva
feminina e temas importantes como Kalas são introduzidos e
desenvolvidos.
O
Crepúsculo entre Ficção e Fato
|
"Mephi" de KG Against the Light© |
Experiências
estranhas movem inteiramente o trabalho de Kenneth Grant como parte
de um entrelace mais profundo com conexões providas dessas
ocorrências. Estas muitas vezes começam como estranhos eventos que
são descritos e, depois, desenvolvidos em livros posteriores, muitas
vezes crescendo de forma tangencial, como Grant atribui essas
manifestações de diferentes conceitos.
Uma
vez que tal fio diz respeito à estátua de Mefistófeles
(carinhosamente apelidado de "Mephi" por Grant) que
primeiro encontramos mencionado em Hecates's
Fountain
como uma estátua que Kenneth comprou no empório de Busche, em
Chancery Lane, um
estabelecimento que
parece ter florescido antes da Segunda Guerra Mundial. Esta estátua
parece ter tido uma vida própria, aparentemente seguindo Grant até
em casa em vez de ser adquirido de forma mais tradicional, com Grant
achando um pouco mais tarde, e ao tentar devolver a estátua descobre
que o empório tinha fechado.
Um pouco mais tarde, em Hecate's
Fountain
descobrimos
que Mephi encontra seu caminho em um rito de Oolak (um dos Grandes
Antigos do sistema de Grant) da Nu-Isis e serve para aterrar os
poderes levantados no rito. Mephi em seguida, aparece misteriosamente
na Novela Against
the Light como
uma ilustração na capa, bem como sendo referido no livro em que
Grant nos dá um relato da compra da estátua. Tudo isso pode soar um
pouco estranho e improvável, no entanto coisas estranhas como esta
acontecem aos ocultistas, e alguns objetos entusiasmados com presença
parecem, muitas vezes, ter uma finalidade própria. Eu sinto que os
relatos de Mephi, em todos os livros de Kenneth Grant, representam
estranhos acontecimentos que realmente ocorreram enquanto ele era
dono da estátua.
Minha
novela favorita de Kenneth Grant é Against
the Light,
a qual eu sinto ser uma jóia absoluta (é importante notar que o
"Contra"- Against
no original -
do título significa próximo
a,
como se com um amante, e certamente não oposto
ou sugerindo diabólica magia negra). Against
the Light é
tecido através de fios do próprio passado de Grant; como é
observado ele menciona o negociante em Charing Cross Road, em
Londres, de quem obteve a sua estátua de Mefistófeles; há
referências ao (talvez fictício) Grimório Grantino,
personagens fictícios de vários contos estranhos, como Helen
Vaughan e uma constante indefinição de ficção e realidade. Isso
tudo é para o bem, uma vez que nos deixa todos querendo saber o que
realmente é a realidade. Talvez a verdade seja que é tudo ficção;
tudo verdade. Talvez nossas próprias vidas sejam tudo ficção, tudo
verdade. A nebulosidade limítrofe é onde o magista, o artista e o
poeta tudo aguenta dentro de suas próprias cadências – e é claro
que Grant era tudo isso, e perfeitamente confortável nesta zona de
penumbra.
O
notável escritor e mago Alan Moore escreveu uma divertida e erudita
crítica
deste livro, que eu entendo Kenneth Grant ter gostado muito. Em sua
crítica Moore descreve o valor e o poder dos romances de Grant como
emergindo de seu lugar único entre fato e ficção. Aqui, emoldurado
em ficção, vemos magia despejar em nossa dimensão infundindo tudo
o que toca. Grant é simultaneamente, extremamente brincalhão ainda
que mortalmente sério. Oolak (mencionado acima) é uma forma de
Conde Orlok de Nosferatu.
Mais
uma vez, como a conexão Lovecraftiana através da qual Grant
explorou o vampirismo em ritual desses nódulos ficcionais podem
servir como entradas para as energias que sustentam a sua existência.
Grant dá algumas dicas em seu trabalho sobre exatamente como ele
trabalhava, e para entender mais disso, precisamos ler as entrelinhas
e nos envolver em alguma especulação. Nós lemos alguns relatos
fantásticos nos livros, como o seguinte de Hecate’s
Fountain,
o que dá o maior número de relatos das práticas que a loja Nu-Isis
executou. Mais maravilhosamente lemos na página 53 da edição da
Skoob:
"O
salão estava preparado para exibir a vastidão nevada daquele
abominável platô situação em regiões astrais que coincidem
terrestrialmente com certas regiões da Ásia Central não
precisamente especificado por Al Hazred. As paredes e o chão eram
brancos, e brancos eram os sete caixões arrumados sobre cavaletes
diante de um altar deslumbrantemente branco onde montes de neve
brilhavam e traçou sobre as pistas de gelo suaves de três pirâmides
... "
Claramente
precisamos ler descrições como esta com um olhar atento e perceber
que Grant não está falando de alguma decoração em um quarto de
hóspedes no andar de cima! Embora possa ter havido alguma decoração
física no local de trabalho (dado os talentos artísticos de Kenneth
e Steffi Grant), é duvidoso que um espaço para trabalho mágico
seja tão grande. Um outro indício, porém, é sugerida a seguinte
relato:
"O
salão da loja foi preparado para a realização de um tipo de
feitiçaria licantrópica e necromântica associada com dois
específicos túneis de Set. Imagine, portanto, uma miniatura
completa da versão mais complexa
das cavernas de Dashwood
com – em lugar das várias grutas providas para flerte sensual –
uma série de celas em forma de concha, como vórtices petrificados,
projetados com o único propósito de atrair em suas circunvoluções
as energias ocultas de Yuggoth, e focalizando através delas os kalas
de Nu Isis, representados por uma gigantesca vesica em forma de
prisma. A decoração foi sobrenatural ao extremo, as iluminações
engenhosamente arranjadas a conferir um sinistro e cambiante jogo de
luz e sombra combinados com audíveis imagens sugestivas de águas
impetuosas e assobios de ventos astrais; uma atmosfera completamente
estranha criada por poucos toques hábeis e de suprema qualidade
artística.”
Observe
o uso de palavras e frases como imagine
e ventos
astrais.
Tal terminologia é sugestiva de que essas configurações foram
imaginadas na mente dos participantes do trabalho. Isso não é tão
estranho quanto seria de se esperar, uma vez que as habilidades em
visualização são cruciais para trabalho oculto, e está dentro dos
olhos mentais em que o fenômeno é visto. Estamos todos
familiarizados com a idéia de um palácio da memória, onde um
edifício é visualmente perpetrado de memória como uma coleção de
pontos de ancoragem que prendem objetos específicos em seu locus.
Exatamente a mesma coisa está acontecendo aqui e Grant, enquanto
escrevendo de uma forma evocativa, está, acredito eu, descrevendo
como os participantes da Loja Nu-Isis começariam seu trabalho
através da criação de um "espaço visual" interno como
um local mental, pronto para contactar as entidades que estavam
sujeitas ao ritual em andamento.
Sobre
Estranhas Marés
|
The Oracle Zos Speaks!© |
Um
dos temas mais notáveis no corpo de trabalho de Kenneth Grant
é seu reconhecimento do trabalho de outros ocultistas, como eles se
prolongam na corrente do trabalho mágico que ele descreve. O mais
notável destes superstars foi, naturalmente, o artista ocultista
Austin Osman Spare, que era um amigo próximo de Kenneth e Steffi
Grant até sua morte em 1956. Vale bem a pena obter uma cópia do Zos
Speaks
de
Grant, que detalha a comunicação entre ele e Spare, bem como a
publicação do grimório de Spare, The
Book of Zos vel Thanatos.
Muitas vezes se tem observado que sem Kenneth Grant continuamente a
defender seu trabalho, haveria o perigo de que Spare tivesse sido
esquecido atualmente. Certamente Spare, por ser um pouco recluso,
tinha desaparecido da ribalta pública na época em que conheceu
Kenneth Grant e seu retorno à proeminência só começou realmente
em 1975, quando o livro de Grant, Images
and Oracles of Austin Osman Spare
foi
publicado. Percorremos um longo caminho desde as imagens
monocromáticas encontradas neste livro quase quarentão, até os
lindamente talismãnicos livros que as modernas editoras, como
Starfire e Fulgur produzem hoje, em que podemos ver a arte gloriosa
de Austin Spare pródigamente reproduzidas em cor de total alta
definição.
Outro
ocultista notável trazido a destaque pelo trabalho de Grant é
Michael Bertiaux, cuja obra está recentemente experimentando um
renascimento graças à reimpressão de seu famosíssimo obscuro e
anteriormente inconseguível Voudon
Gnostic Workbook.
Temos também Nema (mencionada nas Trilogias como Soror Andahadna),
cuja peça canalizada Liber
Pennae Praenumbra
lindamente evoca o melhor de Thelema, falando de um universo mágico
muito maior do que nós, cheio de mistério e maravilha.
Em
livros posteriores de Grant nós até mesmo vemos referência ao
falecido Andrew D. Chumbley, cuja reinicialização da bruxaria tradicional em
seu Azoëtia
remete a alguns dos temas desenvolvidos por Austin Spare em "The
Witches Sabbath".
Há muitas outras referências a ocultistas emergentes no trabalho de
Grant, e não pode haver a mínima dúvida que seu apoio ajudou a
trazer esses escritores à atenção de ocultistas e, em alguns
casos, de um público mais amplo.
Os
escritos de Kenneth Grant tem sido publicados desde a década de
1960, e até sua morte recente, tinha havido sempre um novo livro
para aguardar ansiosamente. Alan Moore nota em sua crítica de
Against
the Light
“por
que a maioria dos ocultistas que eu conheço, inclusive eu, têm mais
ou menos tudo que Grant já tenha publicado descansando em suas
prateleiras?” Apesar de sua morte, sua influência continua a
crescer e estamos já vendo trabalhos de escritores enriquecidos
pelas Trilogias
Tifonianas
movendo-se no lado diurno – por exemplo, o grupo experimental
britânico English Heretic produziu um álbum chamado Tales
of Nu-Isis Lodgee
que
divertidamente coreografa os relatos em Hecate’s
Fountain
em
música e a ficção fantástica encontrada na literatura e no
cinema, como o filme original A
Múmia,
Fungos
de Yuggoth
de Lovecraft
e Invasores
de Corpos
que
inspirou Grant.
Infelizmente
o último título publicado foi o Grist
to Whose Mill,
o qual, ironicamente, foi o primeiro romance de Kenneth Grant,
escrito no início de 1950, que só agora emergiu da escuridão à
luz para publicação. É triste que não veremos mais os maravilhosos e
mágicos livros de Kenneth Grant embora a sua obra deva viver e
crescer em nossos corações, mentes e almas.
___________________
NOTAS:
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